Trilha do Ouro

A travessia de Mambucaba ou trilha do ouro como é conhecida, fica localizada dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina, é uma clássica travessia por um pedaço da história do Brasil. O calçamento real durante parte do trajeto, foi construído pelos escravos entre os séculos XVII e XIX, a partir de trilhas dos índios Guaianazes. O caminho já foi utilizado por bandeirantes, piratas, tropeiros, escravos e hoje é um atrativo fantástico para nós aventureiros.

Características:

Dificuldade: Pesada/ nível 7 – Entenda
Distância: 48 km
Altitude Máxima: 1.514 m

Circular: Não

Parque Nacional da Serra da Bocaina

Toda travessia é feita por dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina e por esse motivo precisa de autorização previa para ser realizada e existe controle de número de visitantes por fim de semana. Para solicitar autorização basta enviar um e-mail para pnsb.rj@icmbio.gov.br com  Nome, RG, endereço, telefone e um contato para emergência de todos os que farão a travessia.

Ao chegar na portaria do parque no dia da travessia, os dados serão validados e será entregue um “ingresso” que deve permanecer com você durante todo o percurso.

O que tem por lá?

Os atrativos dessa travessia começam antes mesmo da portaria do parque, durante a estrada de 26 km que liga a cidade de São José do Barreiro a portaria, existem inúmeros mirantes com vista para a Serra da Mantiqueira e a represa do funil, vale a pena parar o carro para apreciar.

Durante a travessia as atrações principais ficam por conta da cachoeira Santo Isidro com 80 metros de queda, a cachoeira das posses com 40 metros de queda e a mais famosa, a cachoeira dos Veados, com três quedas espetaculares.

Por último, mas não menos importante, esta o calçamento real com as pedras assentadas pelos escravos.

Precisa de guia?

Essa é uma travessia muito demarcada, ela segue quase em sua totalidade por estrada de terra e depois pelo calçamento, a possibilidade de se perder é muito pequena, se você possuir um GPS da para ir sem guia numa boa.

Agora se você tem preparo físico mas não tem experiencia e não quer correr nenhum risco, existem essas agencias que oferecem o trajeto:

OBS: Não nos responsabilizamos pelos valores cobrados e nem pela qualidade dos serviços.

Quando ir?

Essa é uma decisão difícil de ser tomada, o verão seria o ideal para aproveitar os rios e cachoeiras da travessia devido ao calor, porém, é a época com mais possibilidade de chuva e acredite, quando chove na Bocaina, chove de verdade. Então a melhor época para realizar a travessia é no inverno, seguindo a temporada de montanha no Brasil que vai de abril a outubro quando chove menos.

Como chegar e voltar?

O inicio da travessia é em São José do Barreiro, porém, na portaria do Parque Nacional que fica localizado a 26 km do centro da cidade. Existem poucos horários de ônibus com destino a cidade da operadora Pássaro Marrom, o ideal é contratar alguém para te levar até a portaria do parque.

Na cidade de São José do Barreiro existem alguns prestadores de serviço de transporte até a portaria do parque:

  • Eliéser: (12) 3117.2123
  • Reginaldo: (12) 99747.9651 / (24) 9913.7066
  • Roger: (12) 3117.2050

A volta é um pouco mais complicada, a travessia termina a 20 km de Mambucaba/RJ, um sub-distrito de Angra dos Reis/RJ, não existe nenhum transporte coletivo que faça esse trajeto, então você precisa contratar alguém para te buscar na ponte de arame que é o final da travessia ou caminhar esses 20 km e chegar na Rodovia Rio x Santos onde é possível pegar um ônibus para Paraty/RJ ou Angra/RJ, o trajeto de ônibus nesse caso é bem complicado principalmente porque os horários de ônibus que não batem, já tivemos que dormir na rodoviária de Paraty/RJ porque perdemos o horário do ultimo ônibus que saia da cidade. A melhor opção é realmente contratar um resgate antes de iniciar a travessia, os contatos acima também prestam esse serviço.

A estrada de Mambucaba até a ponte de arame se chama Estrada Sertão de Mambucaba e esta relativamente boa, uma van normal consegue chegar tranquilamente até a ponte de arame.

Não existe sinal de celular até 8 km depois da ponte de arame, então acerte o resgate realmente antes de iniciar a travessia.

Camping selvagem, camping fechado ou pousada?

A travessia oferece as três opções aos aventureiros e a escolha claro interfere na distância a ser caminhada por dia e no que é necessário levar.

Para quem prefere camping selvagem, as opções são dormir a primeira noite próximo da cachoeira das Posses e a segunda noite próximo a cachoeira dos Veados, isso fará com que você caminhe 8 km no primeiro dia, 22 km no segundo dia e 18 km no terceiro dia. Eu gosto dessa divisão porque as duas primeiras cachoeiras ficam no primeiro dia e caminhando apenas 8 km eu tenho bastante tempo para aproveitar cada uma delas.

Durante o caminho existem algumas pousadas que oferecem quarto coletivo, espaço para camping e refeição, geralmente quem faz essa escolha fica na pousada da Barreirinha na primeira noite e na pousada do Tião na segunda noite. Dessa forma no primeiro dia serão 18 km de caminhada até a Barreirinha, no segundo dia 12 km até o Tião e no terceiro dia 18 km.

Pousadas no caminho:

  • Barreirinha: (12) 3117.2205
  • Casa Pintada(Palmirinha): (12) 99792.3477
  • Refugio Ecológico Vale dos Veados: (12) 3117.1192

Dicas e observações

  • Água não é problema nessa travessia, existem inúmeros pontos onde é possível pegar água e ainda é possível abastecer nas pousadas. Lembre-se apenas de levar Clorin ou Hidrosteril para purificar a água que coletar.
  • Próximo a cachoeira das Posses existem 2 casas abandonadas no meio da mata, é um ótimo ponto de abrigo caso pegue uma tempestade no caminho.
  • Você vai caminhar bastante tempo sem sombra, não esqueça do protetor solar.
  • Logo após a cachoeira Santo Isidro existe uma placa a esquerda indicando “Atalho”, escolha esse caminho para economizar cerca de 2,5 km de trilha.
  • Existe a possibilidade de ligar na pousada Barreirinha e pedir para eles buscarem você ou pelo menos sua bagagem de carro, perde um pouco da graça e corta quase metade da travessia, mas a possibilidade existe.
  • Não faça fogueiras e traga todo seu lixo de volta ou pelo menos deixe nas pousadas.

Relato da Travessia

Fazemos essa travessia todos os anos e sempre com camping selvagem, então caso opte por ficar nas pousadas apenas as distancias de cada dia se alteram.


1º Dia

Nosso planejamento sempre foi acampar o primeiro dia na cachoeira das Posses e o segundo dia na Cachoeira do Veado, dessa forma o primeiro dia é o mais tranquilo, partindo da portaria com 1,2 km de caminhada se chega na Cachoeira Santo Isidro, ela fica a esquerda da trilha e é uma bela descida até chegar na base da cachoeira, dependo do preparo físico considere “esconder” as mochilas próximo da trilha e pega-las na volta.

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Voltando para a trilha, andando aproximadamente 1,5 km existe um atalho que reduz a trilha em 2,5 km, caso opte em não usar o atalho some essa distancia nos valores descritos acima.

Bom considerando que você pegou o atalho, da cachoeira Santo Izidro até a cachoeira das Posses são cerca de 6,5 km em um caminho relativamente tranquilo.

A Cachoeira das Posses fica do lado esquerdo da trilha, quando começar a ver as araucárias é porque esta bem próximo da entrada.

Logo no começo da trilha em direção a cachoeira existe uma casa abandonada no lado direito, é um opção de acampamento fechado, bastante gente acampa ali dentro para escapar da chuva e do frio.

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Um pouco mais a frente existe uma boa área de camping para 4 ou 5 barracas.

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Atras dessa área existe mais uma casa abandonada, as vezes acampamos dentro dela. Na “cozinha” da casa existe espaço para 3 barracas, as paredes laterais caíram mas mesmo assim é uma boa proteção do vento e existe um fogão a lenha que pode ser utilizado para cozinhar ou apenas para fazer uma “fogueira” para esquentar a noite.

Como dito o primeiro dia é o mais tranquilo, então caminhando bem você terá bastante tempo para curtir a Cachoeira das Posses, ao lado da casa e da área de camping existe uma trilha com uma placa indicando o caminho da cachoeira, cerca de 200 m a frente existe a primeira queda, nada muito grande, continue descendo a trilha por mais cerca de 600 m até a base da cachoeira.

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2º Dia

Para quem assim como nós decide não acampar na pousada Barreirinha, o segundo dia é o mais cansativo e longo, são 22 km até a cachoeira do Veado, sendo boa parte sem árvores e com algumas subidas pesadas se levar em consideração que estamos com peso nas costas.

Os primeiros 4 km são tranquilos, ainda estão protegidos pelas árvores e com poucas subidas e ainda com pontos de água no caminho.

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Depois disso começa o caminho por estrada de terra, sem árvores e com algumas subidas e descidas bem cansativas, caminhando em torno de 6 km esta a Pousada Barreirinha, é um bom lugar para trocar a água e até mesmo para comer ou beber alguma coisa, de qualquer forma, corte caminho pela pousada que vai desviar de uma bela subida ingrime e curta.

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Saindo da pousada ainda faltam 12 km até a cachoeira do Veado, cerca de 8 km do percurso continua sem árvores e em estrada da terra, nesse percurso 2 km depois de passar pela pousada Palmirinha, tem uma subida bem pesada, é praticamente o último trecho em estrada de terra, ou pelo menos estrada que aparenta ter condições de passagem de carro.

Após essa subida já começa um pouco mais de vegetação com alguns pontos de bastante árvores e já alguns trechos com o calçamento real, desse trecho até a cachoeira do Veado faltam pouco mais de 5 km. Quase chegando na fazenda central existe um rio com um pinguela, considere um bom ponto para trocar de água novamente caso necessário.

Desse ponto para frente falta pouco até a cachoeira, na primeira vez que fizemos a trilha acabamos chegando tarde nesse ponto e decidimos acampar ao lado da fazenda central por já estar escurecendo e existe uma boa área de camping ao lado de um lago.

Passando a fazenda central falta bem pouco, porém, começam algumas descidas e o terreno é bem ruim, ainda mais se estiver chovendo (ou muito molhado), mesmo sendo um trecho relativamente curto, leva uns 30 minutos para atravessar.

Assim que terminar a descida, do lado esquerda existe uma “gaiola” para atravessar o rio, é uma caixa de metal suspensa em um cabo de aço para fazer a travessia, do outro lado do rio existe uma pousada com área para camping, essa é uma parte bem divertida da trilha.

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 Continuando a trilha sem pegar a gaiola, é o caminho até a cachoeira dos Veados e após um pequeno pasto já começam as áreas de camping próximo da cachoeira. O ideal é acelerar a caminhada dos 22 km desde a Cachoeira das Posses para aproveitar a cachoeira dos Veados ainda no segundo dia e no terceiro dia já pegar a trilha logo cedo.

A Cachoeira dos Veados é a mais bonita da travessia, com três quedas enormes. O acesso a última queda é bem tranquilo, já para chegar a segunda queda é mais complicado e na primeira nunca ouvi ninguém comentar que já chegou.

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3º Dia

O terceiro dia são 18 km até a ponte de arame onde geralmente é feito o resgate, para continuar é necessário atravessar a gaiola e passar por trás da pousada para continuar a trilha.

Cachoeiras a parte, o terceiro dia da trilha é o mais bonito pois é quase por completo dentro da mata e com o calçamento real, existem vários trechos de subidas e descidas pelo calçamento, as pedras estão muito lisas e com chuva o caminho se torna ainda mais difícil (Entenda algumas quedas na certa :-D).

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Em alguns trechos as pedras do calçamento já se soltaram e em períodos de chuva viram um barro só, por isso todo cuidado na descida é pouco.

Faltando quase 4 km para o fim da trilha é necessário atravessar o rio Mambucaba, existe uma ponte suspensa um pouco para a esquerda da trilha ao chegar no rio, você pode atravessar a ponte ou atravessar pelo rio mesmo que é raso nesse trecho.

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Atravessando o rio, falta pouco, mais 4 km e é o fim da trilha, ela termina em uma estrada de terra e do lado direito tem a ponte que também cruza o rio Mambucaba, essa ponte é conhecida como ponte de arame. Existem algumas casas nessa estrada próximo da ponte, se você não deixou um resgate combinado existe a possibilidade de bater em alguma casa e com sorte achar alguém que te leve até a rodovia (já tivemos essa sorte) ou ir caminhando os 20 km até a Rodovia Rio x Santos.

Tiago
Um paulistano morando aos pés da Serra da Mantiqueira, formado em Administração, Turismo e Data Science, criador do blog Fé no Pé, proprietário da Estratégia Software e da NaMoska 3D, guia de turismo, montanhista, mochileiro e voluntário da Sea Shepherd Brasil

11 thoughts on “Trilha do Ouro – Guia Completo

  1. Excelente post, Thiago.
    Valeu pela colaboração!
    Esse roteiro será um dos meus próximos e utilizarei este relato como base de conhecimento.
    Forte abraço.

  2. Olá, Tiago!
    Muito bom seu post, obrigada pelas dicas.
    Estamos nos planejando para começar a trilha dia 29 de dezembro. Você tem contato(s) de resgate que possa nos levar da ponte do arame até mambucaba (para pernoitar) e, no dia seguinte, até a portaria do parque (para buscarmos o carro)?
    obrigada!

  3. E ai Tiago!
    Estou pretendendo fazer a trilha do ouro em outubro ou novembro, só estou um pouco preocupado com a chuva durante o pernoite, pois minha barraca não aguenta chuva por muito tempo. Para camping selvagem ainda existem opções para se abrigar da chuva tanto no primeiro quanto no segundo dia? como a casa abandonada citada no primeiro dia.. Caso não tenha boas opções para o segundo dia como seria os campings não selvagens, possuem parte coberta para barraca para proteger da chuva? Grande abraço !!

  4. Estou pensando em fazer a Trilha do Ouro e sequenciar com a volta da Ilha grande. A ideia seria ir de ônibus até são José do Barreiro e subir os 26km a pé até entrada do parque, acredito que perco um dia nisso. Durmo na portaria e início cedo a trilha. No final ir a pé até até a rodoviária ou rodovia e pegar um ônibus para Angra. Início a trilha da volta da Ilha e pretendo terminar em oito dias e volto pra sp.
    Seriam de 13 a 15 dias trilhando ….
    Acha possível e viável fazer dessa forma ?

    1. Fala Thiago, tranquilo? Cara a estrada até a portaria do parque esta um tapete, então qualquer carro sobe, então acredito que você consiga alguém que te leve até a portaria saindo de SJB, se não conseguir, durante a subida ainda rola conseguir carona, eu mesmo já dei carona pra gnt subindo, se não conseguir, é coisa de meio dia subindo mesmo. A trilha do Ouro acaba onde o pessoal chama de ponte de arame na estrada sertão de Mambucaba, dali são cerca de 15km até a rodovia Rio x Santos onde vc consegue pegar um bus na estrada. É a mesma coisa, na estrada sertão de mambucaba, já consegui carona algumas vezes pra ir até a estrada, vai na caruda e bate nas casas hehehe

      Se estiver com bom condicionamento, é possível fazer dessa forma sim

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