Recentemente o tema fazer fogo voltou a ser levantado, muita gente defende o uso consciente de fogueiras em acampamentos e outros abominam seu uso. A grande questão é que por mais que alguns estejam preparados para fazer e controlar as fogueiras, muitos não estão e ai quem paga é a natureza e claro todos nós depois. Mas e o que fazer então?

Para refletirmos um pouco, vou colocar aqui um texto do Pega Leve, um programa com o intuito de difundir a ética e as práticas de mínimo impacto, voltado à convivência responsável com o ambiente natural, dedicado a construir a conscientização, apreciação e, além de tudo, o respeito por nossas áreas naturais.

Evite fazer fogueiras

Fogueiras enfraquecem o solo, enfeiam os locais de acampamento e representam uma grande causa de incêndios florestais.

Acampar ao redor de uma fogueira com comida fumegando em uma caçarola suspensa sobre o fogo, tudo acompanhado do som de um violão, é uma imagem arraigada em nosso imaginário coletivo. Mas os riscos e os impactos que essa atitude pode provocar nas áreas naturais superam a necessidade de acender fogueiras.

O fogo causa um processo de endurecimento no solo além de matar todos os microorganismos que são fundamentais para o 18 desenvolvimento da vegetação. Dependendo do ambiente, a cicatriz permanece por um longo tempo. Os carvões também persistem por muito tempo, contribuindo para que o local tenha uma aparência desgastada e feia.

A madeira, as folhas secas e a palha possuem um importante papel na reposição natural de nutrientes no solo, assim como na manutenção da umidade essencial para a sobrevivência de muitos animais e plantas. Queimar todo este material afeta o desenvolvimento natural da área, impacto percebido somente a longo prazo.

Em muitas regiões, as estações secas são longas e bem definidas causando um forte ressecamento na vegetação, que chega a ficar totalmente desprovida de folhas nos locais mais secos. Essa condição é ideal para incêndios que podem começar mesmo com uma pequena fogueira, causando um sério desastre.

Para cozinhar, utilize um fogareiro próprio para acampamento. Os fogareiros modernos são leves e fáceis de usar. Cozinhar com um fogareiro é muito mais rápido e prático que acender uma fogueira.

Os modernos fogareiros que utilizam gás ou combustível líquido pesam apenas algumas gramas a mais na sua mochila e são capazes de funcionar sob chuva forte e vento, sem produzir fumaça ou aquelas horríveis panelas enegrecidas pela fuligem. Naturalmente, você também não gastará horas procurando lenha necessária para preparar uma refeição e poderá evitar os impactos decorrentes dessa coleta e de sua queima.

É recomendável acender o fogareiro em uma pequena clareira, sobre uma pedra ou areia, mantendo capim, folhas secas ou gravetos, no mínimo, a 50 cm da chama. Nunca deixe seu fogareiro aceso quando você não estiver por perto. Aprender a operá-lo corretamente e cuidar de sua manutenção também são garantias de segurança.

Para iluminar, utilize um lampião ou uma lanterna no lugar de uma fogueira.

A quantidade de lenha necessária para manter uma fogueira acesa apenas para iluminar seu acampamento é muito grande e não se justifica. Noites sem nuvens oferecem o grande espetáculo da Lua ou das estrelas que a fogueira acaba ofuscando.

O planejamento cuidadoso e o equipamento adequado também tornam desnecessário acender uma fogueira para aquecimento. Se você estiver com frio, é melhor agasalhar-se, abrigar-se em seu saco de dormir ou na sua barraca. Lembre-se que em muitos casos, manter a cabeça coberta por um capuz ou chapéu ajuda a conservar o calor se você estiver com o corpo bem agasalhado. Caso você decida que é realmente necessário acender uma fogueira, considere primeiro:

  • Se é permitido fazer fogueiras no local. Se for proibido, desista;
  • Se existe lenha em abundância e de boa qualidade, considerando que você deve coletar apenas a madeira morta e seca que estiver caída. Evite também utilizar madeiras muito grossas, restringindo-se à lenha que você tenha condições de quebrar com as próprias mãos. Deixe seu machado ou seu facão de mato em casa;
  • Se a taxa natural de reposição de lenha é maior que a taxa de lenha coletada. Use seu bom senso para avaliar se você e os demais aventureiros que costumam frequentar o local não estão tirando mais lenha do que a natureza consegue fornecer;
  • As condições do vento. Evite fazer fogueiras quando o vento está muito forte;
  • Se há algum risco de provocar um incêndio;
  • Se existe local adequado;
  • Se é possível eliminar as marcas do fogo que você fará.

As fogueiras também são mais aceitáveis em locais já intensamente impactados com características menos naturais como áreas de piquenique ou grandes áreas de acampamento que admitam o trânsito de veículos. Nesses locais, a madeira utilizada não deve ser coletada no ambiente, mas deve provir de fora, na forma de lenha para lareiras ou carvão, obtidos a partir de florestas comerciais de eucalipto ou pinus.

Em qualquer caso, siga as seguintes instruções:

Acenda uma fogueira sempre longe de barracas, árvores e grandes pedras para evitar queimá-las ou chamuscá-las. Barracas queimam instantaneamente e o nylon em chamas pode provocar queimaduras muito graves na pele.

Mantenha sua fogueira sempre pequena, apenas o suficiente para ferver água em uma panela pequena, por exemplo, e nunca a deixe acesa sem supervisão. Tente queimar totalmente a madeira utilizada, deixando o mínimo possível de tocos e carvões. Antes de dormir, ou antes de sair, apague a fogueira totalmente com auxílio de água, espalhe as cinzas por uma área grande, enterre os carvões e recomponha a cobertura de folhas secas.

Nos lugares onde é permitido fazer fogueiras, existem locais já designados para isso. Nestes casos, não faça fogueiras em outros locais. Caso utilize uma churrasqueira, cuide para que as fagulhas não atinjam a vegetação, especialmente se estiver seca. Cuide também para não respingar gordura no solo ou sobre a vegetação.

Em áreas onde não existam estruturas próprias para fogueiras, o local escolhido deve estar longe de árvores, pois o forte calor pode danificá-las seriamente. Caso já exista uma marca de fogueira, procure fazer a sua no mesmo lugar, evitando novas cicatrizes.

Remova as folhas e o capim secos ao redor de sua fogueira. Quanto mais seco o ambiente, maior deve ser o cuidado com a limpeza da área e com a preocupação de manter o fogo pequeno. Praias sem vegetação, onde só há areia ou seixos soltos são mais adequadas para acender fogueiras que solos com vegetação.

Sempre que você precisar coletar lenha, apanhe o que estiver disponível no chão. Procure apenas lenha seca e de diâmetro reduzido. Não arranque galhos nem corte árvores ou arbustos em pé, independente de seu tamanho ou de parecerem estar secas e mortas.

Árvores e outras plantas vivas possuem muita água demoram a pegar fogo e, quando queimadas, produzem muita fumaça. Troncos grossos devem ser deixados onde estão, pois servem de abrigo para pequenos animais e de substrato para outras plantas, liquens e fungos. A lenha encontrada em praias é mais adequada, pois costuma estar longe de seu lugar original.

Em locais isolados e pouco frequentados, uma boa forma de diminuir os impactos das fogueiras é proteger o solo e sua cobertura vegetal acendendo o fogo sobre um pequeno monte artificial de terra. Leve uma lona para forrar o solo, com tamanho suficiente para toda a área da fogueira, deixando alguma sobra, e deposite sobre ela uma camada de terra solta ou areia, com aproximadamente 15 cm de altura. Faça sua fogueira sobre esta camada, utilizando apenas gravetos, e apague-a totalmente quando terminar de cozinhar. Antes de ir embora, espalhe o monte de terra (ou areia) e as cinzas pela maior área possível e recomponha o local utilizado de modo a não deixar evidências de sua fogueira.

Tiago
Um paulistano morando aos pés da Serra da Mantiqueira, formado em Administração, Turismo e Data Science, criador do blog Fé no Pé, proprietário da Estratégia Software e da NaMoska 3D, guia de turismo, montanhista, mochileiro e voluntário da Sea Shepherd Brasil

5 thoughts on “Fogueira, fazer ou não fazer?

  1. Acho que a discussão é eterna. Há escolas diferentes e cada uma delas defende uma coisa diferente. Tem a galera com conceito militar, outros do escotismo, desbravadores, sobrevivência e etc. Sou totalmente contra.

  2. Eu nunca deixarei de fazer fogueira. Fogueira pra mim, é algo que me remete a algo inexplicável…é um ritual…é o lugar onde gosto de passar algumas horas com pessoas queridas…gosto de um braseiro para ir assando algo…me sinto um verdadeiro homem da terra, livre..
    O único problema é que, nos dias atuais, caracas, não se pode fazer fogueira em quase lugar nenhum..kkk
    Tem locais para acampar, mas praticamente todos não pode fazer fogueira…nao pode fazer em locais por conta da “ecologia” (na minha opinião, se souber fazer uma fogueira, em nada atrapalha, afinal, assim como fauna e flora, nós, seres humanos, também somos nativos deste planeta..e fazer fogueira faz parte de nossa natureza), não pode fazer fogueira na praia…complicado…hahaha
    Parabéns pela matéria.

    1. Exato Ricardo. Temos sim que ser conscientes com a preservação do meio ambiente a nossa volta, mas tem algumas pessoas que agem como se nós, seres humanos, não fizéssemos parte dela, como sendo um ser externo que não pode causar nenhum impacto no meio. O impacto é inevitável, a questão é o tamanho do mesmo.

      1. Por isso o tema fazer ou não fazer e as pessoas que só falam ” a vou fazer pq bla bla bla” não sabem viver em comunidade e não entenderam como suas ações impactam as demais. Existe hora e local para tudo e fazer fogueira em qualquer lugar não é coisa de quem curte a natureza.

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